quarta-feira, 27 de maio de 2009

A “linguagem SMS” é uma moda. Não serve para poupar caracteres (...)


O projecto “Torga em SMS” chama a atenção para as relações e práticas sociais que as denominadas “novas” tecnologias (re)inventaram. Não se trata de códigos inteiramente novos mas antes de uma reformulação dos já conhecidos. “Generation gap”? Mais do que na diferença entre gerações, talvez a questão se centre na apropriação social da tecnologia.

Do “velhinho” MIRC às actuais SMS, das newsgroups ao microblogging… a tecnologia tende a tornar-se cada vez mais imediata, social e, sobretudo, portátil. A distinção que se opera entre mundos online e offline remete para o facto de que o processo contemporâneo de desmaterialização do espaço e de instantaneidade temporal está associado ao conceito de virtual. A diferença centra-se então na questão da presença e no sentido temporal. O novo contexto espácio-temporal em que se verifica a “compressão” (ou supressão?) do tempo e do espaço remete para a não-presença física e uma relatividade do tempo, mas o virtual não é sinónimo de ausência de existência. Muito pelo contrário. Por outro lado, a definição de virtual está em permanente mutação.

As “novas” tecnologias trazem ao Homem um novo desafio: o de reequacionar a realidade e reelaborar a imagem do “eu”, dos “outros” e do mundo. A comunicação enquanto processo de interacção e vice-versa é uma ideia central na análise das tecnologias multimédia. Este fenómeno estabeleceu novos conceitos de espaço e tempo na interacção social, dos quais emergem novas e diferenciadas formas de sociabilidade e uma readaptação da linguagem. Estas alterações devem-se à transição de paradigma da comunicação, que interfere directamente na dimensão social. Por outro lado, a passagem da Cultura de Massas para a era da Cibercultura não sintetiza um processo de exclusão. Mas antes que traduz uma adaptação.

Essencialmente no decorrer da última década, os vectores de mudança remeteram para uma transição da massificação para a individualização, permitindo uma progressiva transformação da era da informação em era da pós-informação. A ideia de individualização centra-se na perspectiva de personalização da comunicação, permitindo alterações na interligação com os outros e com o mundo. No entanto, do ponto de vista social parece evidente que o paradigma é o do colectivo.

A técnica permitiu a emergência de uma nova sociabilidade. É um facto inegável. Mas a sua caracterização é complexa, já que falamos de um “alvo em movimento”, que tem por base a exclusão do determinismo territorial e pode operacionalizar (nas sociedades ditas “info-incluídas”) uma divisão social e cultural de indivíduos. Características assustadoras desta nova sociabilidade são a especialização excessiva, a deslocação da realidade social e económica, o desinteresse político, a anulação do conceito de leitura linear e o desenvolvimento de uma linguagem própria como bem demonstra o projecto “Torga em SMS”. No entanto, a informatização da sociedade é um processo lento mas progressivo. E julgo que as “net generations” que vão nascendo (e aqui não se fala de idade) ultrapassam a geração SMS. A utilização da técnica em termos sociais e educacionais tende a alterar a perspectiva da geração telemóvel – que não é necessariamente “info-incluída” nem se pode confundir com a tão aclamada “net generation”. Por outro lado, considero que a ligação entre diferentes aplicações e equipamentos tende a criar espaços próprios, com linguagens próprias, mas centrados na glocalização e menos “grupais”.

A “linguagem SMS” é uma moda. Não serve para poupar caracteres e está inteiramente associada a uma tribo. Não vai desaparecer, mas não se integra com as restantes tecnologias e será absorvida por outros códigos e linguagens reformulados pela técnica. A utilização das tecnologias não pode ser alheia à Escola e será esse o ponto de viragem. Mas note-se: não vamos lá com o “marketing Magalhães”. É importante não esquecer que à mulher de César não basta ser séria, é preciso parecê-lo.

Inês Amaral, Mestre
Docente do Ensino Superior, ISMT
Investigadora

1 comentário:

  1. A "linguagem SMS" não passa, pois de mais um recurso de entre as ferramentas utilizadas "como moda" que apenas serão aproveitadas para um determinado público.Não me parece q Torga ficasse mto satisfeito ao ver a sua obra com "estas modernices", claro que esta é a minha opinião.

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