quarta-feira, 20 de maio de 2009

A tarefa parece conter um paradoxo em si mesma...

O exercício académico de transformação do “Diário XII”, de Miguel Torga, em “linguagem SMS” acaba por ser mais um reconhecimento de que existe um processo natural de simplificação textual. Ele é evidente nas mensagens de telemóvel, nas redes sociais, na conversação feita por todos os meios na Internet. As causas são o imediatismo, a virtualização e a velocidade. O importante é a mensagem e a sua descodificação. Desde que o enunciado escrito cumpra os três tipos de actos de fala, locutório (o significado que lhe é atribuido), ilocutório (o efeito que se pretende que produza) e o perlocutório (o efeito que produz realmente), então a regra é reduzir até ao limite máximo. Podemos estar no início do alastramento desta simplificação à reserva literária.

A tarefa parece conter um paradoxo em si mesma: por um lado, sendo a linguagem SMS uma escrita mínima essencial muito próxima da representação fonética, existe a prática da lei do menor esforço e da maior rapidez na transmissão; por outro, a escrita de Miguel Torga que apresenta um movimento contrário, de abarcar por palavras as complexidades do mundo. Conciliar estes dois movimentos parece-me, apesar de tudo, um exercício interessante, na medida em que pode fomentar a curiosidade e a acessibilidade dos jovens a uma obra fundamental. Julgo que mal nenhum fará nem ao edifício literário de Torga nem à Língua Portuguesa.


Victor Pinto, Dr.
Jornalista
Docente do Ensino Superior

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